Em se tratando da saúde bucal, torna-se mais freqüente, nos idosos, a chamada cárie de raiz. Ela é similar à cárie comum,
porém tem avanço mais rápido; um dos motivos é que a raiz, agora exposta ao meio bucal (pois as gengivas “retraíram” um pouco), não possui esmalte,
a camada protetora que existe na coroa dental. A despeito disso, ela pode passar despercebida, uma vez que a sensibilidade dentária tende a diminuir com a idade. Evoluindo, pode aprofundar
e tornar necessário o tratamento do canal e até mesmo "solapar" a coroa, aumentando a possibilidade de fratura do dente.
Nos idosos, a cárie de raiz costuma ocorrer devido a diversas situações que são mais comuns nesta fase da vida: problemas motores
causados por artrose, doença de Parkinson e seqüelas de AVEs, que dificultam ou mesmo impossibilitam a higiene bucal; problemas psiquiátricos e/ou psicológicos,
como os decorrentes da doença de Alzheimer e da depressão, que levam o paciente a não se “ importar” com a própria saúde, inclusive
a bucal.
Na boca, ocorre uma diminuição fisiológica da produção de saliva, que é um elemento protetor dos nossos dentes contra a cárie,
e muitos medicamentos de uso contínuo têm, como reação adversa, a diminuição da salivação. Na tentativa de aliviar o desconforto causado pela
sensação de boca seca, pode surgir o hábito de chupar balas (que são alimentos cariogênicos). E, para facilitar a mastigação, uma vez que muitos
têm poucos dentes (ou nenhum), o consumo freqüente de alimentos açucarados e pouco nutritivos, em vez do preparo de refeições saudáveis passa a ocorrer.
Infelizmente, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, a maioria dos que estão na faixa etária acima dos 60 anos não recebeu
orientações educativas com relação à saúde bucal no decorrer da vida. Boa parte dos cuidadores também não, proporcionando uma
qualidade de higiene oral inadequada do idoso dependente ou parcialmente dependente. A boca torna-se, então, um ambiente propício para o desenvolvimento da cárie
de raiz.
Algumas medidas, porém, podem e devem ser realizadas no sentido de evitar ou diminuir seu aparecimento: consulte semestralmente o seu Cirurgião-Dentista ou um Odontogeriatra,
mesmo que você não esteja "sentindo nada"; pergunte sobre o uso de próteses e como mantê-las limpas; consulte regularmente seu Médico ou um Geriatra, da mesma
maneira, e contate sempre diversos profissionais da área: a saúde geral e a bucal estão intimamente relacionadas.
Possuindo o hábito de chupar balas ou similares, procure marcas que tenham açúcares que não provoquem cárie (o xilitol é um deles) ou
que liberem flúor constantemente. E, se você é familiar e/ou cuidador, principalmente se o idoso estiver hospitalizado ou institucionalizado, obtenha instruções
sobre higienização bucal: a origem da cárie de raiz é a mesma da cárie da coroa dentária; portanto, basicamente, a maneira de evitar também, ou
seja, diminuição do consumo exagerado de açúcares cariogênicos e freqüente escovação, uso de fio dental e/ou escova interdental e aplicação
de flúor tópica (feita em Consultório) nos casos de maior risco.
Proporcionando à terceira idade uma maior qualidade de vida estaremos, direta ou indiretamente, colaborando com o bem-estar de toda a sociedade.
Stefano Frugoli Peixoto, Odontogeriatra (ABO) e no CRI - Leste
Contato: stefanofrugoli@ig.com.br
Fernando Luiz Brunetti Montenegro, Mestre e Doutor USP,
Coordenador Saúde Bucal CEDPES e Casa Ondina Lobo.